21.2.11

Uma hora, o pessoal teria que se cansar



Como não poderia ser diferente, a onda de insurreições antiditatoriais no mundo árabe (que derrubou os líderes de Tunísia e Egito, e causa distúrbios na monarquia do Barein) chegou à Líbia, governada há 42 anos por Muammar Kadafi (o ditador há mais tempo no poder em todo o mundo, no momento). Queridinho das esquerdas há tempos por sua oposição aos Estados Unidos, o ditador líbio começa a balançar diante da onda de manifestações que tomaram Benghazi, a segunda maior cidade do país, e acabaram de chegar à capital Trípoli.

Essa onda de manifestações evidencia uma coisa: um dia, as populações de países cujos governos são ditatoriais há décadas acabam se cansando de tanta opressão. Há mais de vinte anos, os europeus demonstraram isso, com as quedas dos regimes comunistas que eram satélites da antiga União Soviética (que seria extinta em 1991). A Europa Oriental era um bloco de ditaduras até fins dos anos 80, quando uma série de fatores surgidos de movimentos populares democráticos desencadeou um efeito dominó, com seu auge na queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989. Sonhava-se que, um dia, isso pudesse chegar ao mundo árabe-muçulmano, também coalhado de ditaduras, tanto favoráveis quanto contrárias a relações diplomáticas com o Ocidente. Ao que parece, esse momento chegou.

Pelo menos por enquanto, a religião islâmica não está sendo um fator preponderante nessas manifestações - e é bom que assim permaneça. Nunca dá certo misturar ideologia política com religião, ainda mais num mundo explosivo como o muçulmano - basta vermos o Irã hoje, em que a falta de democracia é a expressão de ordem. Quanto houver menos intervenções de ordem clerical, melhor para a democracia; os manifestantes, por ora, parecem ter percebido isso.

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